Câncer de mama e o fator emocional

Alexandre de Almeida Barra - Médico mastologista do IPSEMG, fundador e coordenador do Grupo Aconchego de apoio a mulheres com câncer de mama e de colo do útero

O câncer de mama é um problema de saúde pública de grande importância nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, apresentando-se como a neoplasia maligna responsável pela maior causa de morte por câncer no sexo feminino. Em parte, isso é devido ao aumento persistente na incidência do câncer mamário e à dificuldade de diagnosticar precocemente a doença. Os dados da literatura claramente indicam que o intervalo de sobrevida de uma mulher com câncer de mama é inversamente proporcional ao tamanho tumoral, independente do método de detecção da doença. As entidades que coordenam os programas de detecção precoce no SUS e na saúde suplementar vêm desenvolvendo estratégias para estimular a aplicação dos métodos de rastreamento.

 
A mamografia é universalmente empregada como a principal ferramenta no rastreamento, pois há evidências por estudos clínicos randomizados controlados do seu benefício na redução da mortalidade do câncer de mama. O rastreamento mamográfico permite o diagnóstico em fases mais precoces, aumentando a chance de cura. Entretanto, a prevenção primária do câncer de mama (agir na história natural da doença e evitar o seu aparecimento) encontra-se em fase de estudos, e mesmo realizando mamografias anualmente, algumas mulheres são acometidas pelo câncer. As pacientes nos perguntam: "Por que, mesmo consultando o médico e fazendo todos os exames indicados, o câncer apareceu?" Atuando como mastologista procuro explicar às pacientes que, além da realização dos exames para detecção precoce, é importante evitar os fatores de risco relacionados à doença e que o câncer pode aparecer mesmo fazendo mamografia periodicamente.

 
Fatores emocionais, como estresse, perda de uma pessoa querida, separações ou problemas financeiros afetam de maneira importante a saúde física, agravando certos estados mórbidos ou criando outros tantos. Sobre as bases de uma observação bem controlada, tem-se que a mente e o corpo, longe de constituírem dimensões distintas do ser humano, estão em constante interação, provocando mutuamente, ações que podem ser tanto benéficas quanto maléficas. No início do século XX, o espetacular progresso das técnicas de investigação e intervenção médicas diminuiu a preocupação dos profissionais com a interferência dos fatores psicológicos na gênese das doenças. A cirurgia passou a focalizar a atenção no câncer como uma doença situada numa parte específica do corpo, deixando de considerá-la como um aspecto do funcionamento do ser humano como um todo.

 
Contudo, a partir da década de 1960, começaram a aparecer estudos e trabalhos científicos mostrando que uma vida emocional saudável constitui um fator protetor contra o aparecimento da doença e desempenha um importante papel na evolução favorável do câncer após o tratamento. Percebe-se que o aumento da incidência do câncer de mama está relacionado à piora da qualidade de vida das pessoas. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a expectativa de vida aumentou, mas a qualidade de vida vem piorando, significativamente. Não estamos tendo tempo nem de tomar café com a nossa família. Hoje, quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante, a humanidade nunca fez tanto e realizou tão pouco, o contato humano agora é virtual.

 
Na assistência à saúde, a conexão entre mente e corpo é uma realidade que tem que ser, obrigatoriamente, considerada. A ciência, felizmente, já aceita isso. A obesidade, o sedentarismo e o alcoolismo que estão relacionados a uma vida emocional mais desequilibrada são fatores de risco importantes para o câncer de mama. Diante dessa realidade, os profissionais de saúde, além de solicitar exames complementares para detecção precoce do câncer, devem também alertar para a importância dos bons hábitos de vida. A participação em grupos de apoio ajuda a enfrentar os problemas de correntes da doença, pois nessa oportunidade existe troca de experiências e esclarecimento de dúvidas que não foram sanadas no consultório. É por isso que, no IPSEMG, criamos o Grupo Aconchego. Há 11 anos, uma equipe multidisciplinar acompanha mulheres acometidas pela doença, oferecendo a elas e a seus familiares apoio para enfrentar os problemas decorrentes do câncer.

Publicado em 14/10/2013 15:25

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