"Doença do silicone" : um risco que pode estar associado à prótese mámaria

Por ano, no Brasil, são realizadas, em média, 250 mil cirurgias de implante de silicone. O procedimento é o mais procurado pelas brasileiras, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). De acordo com o último levantamento da entidade, em 2018, as intervenções para o aumento dos seios representavam 18,8% dos procedimentos realizados, na frente, inclusive, da procura por lipoaspiração (16%) e abdominoplastia (15,9%). 
 
Mas, apesar de não existir dados compilados no país, cada vez mais mulheres estão buscando o explante, segundo os especialistas, alegando estarem sofrendo com a doença do implante mamário (BII, na sigla em inglês). A síndrome ainda não é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas médicos afirmam que em alguns casos o silicone pode provocar dores crônicas, dores no peito, calafrios, cansaço, perda de cabelo e distúrbios do sono. Para muitas mulheres, os sintomas só melhoram após a remoção das próteses de silicone, apesar de não existir comprovação científica.  
 
Esse foi o caso da jornalista Mayra Santos. Há um mês, a mineira decidiu realizar a retirada das próteses mamárias. A primeira vez que ela realizou a cirurgia foi em 1990, após o nascimento do segundo filho. Depois disso, foram mais quatro cirurgias de troca dos implantes. Tudo ia aparentemente muito bem, até que, em 2016, a jornalista começou a perceber que havia algo errado. Era fadiga extrema, perda de memória, formigamentos, unhas e cabelos quebradiços e ressecados. 
 
"Quando eu coloquei (o silicone), não era moda, nem se falava nisso, coloquei porque meu peito sempre foi muito pequeno e queria algum volume. Mas ao longo dos anos eu fui percebendo que eu tinha muito inchaço, artrite, muita dor de cabeça, parecia que eu vivia em uma eterna sinusite e também tinha vários sintomas que nunca liguei ao silicone. Fiz todos os exames e não tinha explicação. Me falavam que era emocional e que eu não estava aceitando envelhecer, mas não era. A pessoa envelhece ao longo dos anos e eu estava tendo essas coisas de uma hora para a outra", conta.
 
Sem diagnóstico, a mineira perdeu a conta de quantos médicos e exames realizou, até que um dia um dos médicos lhe mandou um link e perguntou se ela se identificava com a chamada síndrome ASIA (Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes). Foi aí que Mayra decidiu retirar as próteses. “Ele me mandou um grupo do Facebook com o relato de várias mulheres. Não tive mais dúvidas, eu tinha todos os sintomas. Eu estava definhando, achava que eu ia morrer”, afirma. “Foi impressionante; depois que eu tirei as próteses, parece que rejuvenesci dez anos, e a melhora foi quase imediata”, diz. 
 
Segundo a cirurgiã plástica, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Anne Karoline Groth, ainda não há evidências científicas suficientes que comprovem a relação entre os sintomas descritos pelas pacientes e os implantes mamários. A médica, no entanto, reforça a importância de se estudar e estar atento ao assunto. 
 
“A síndrome Asia é algo extremamente novo, muito genérico, foi citado somente em 2011, mas ela está relacionada a qualquer corpo estranho no seu corpo, pode ser uma vacina, alumínio, por exemplo. É um diagnóstico muito difícil e inespecífico, não existe exame. O que tem se discutido é que o silicone pode ser um desses elementos que provocariam essa síndrome. Mas não tem comprovação científica. Existem estudos também sobre doenças causadas pelo silicone, mas o silicone continua sendo um procedimento seguro, não temos evidências que comprovem que os sintomas dessas pacientes são por causa da doença e nem se pode falar que ao retirar a prótese essa mulher vai estar curada. É preciso estudar mais sobre isso e ter uma base maior de estudos”, explica. 
 
De acordo com o cirurgião Lucas Rezende, não existe contraindicação para o silicone, o único alerta vai para pessoas com doenças autoimunes. "Quer queira ou não é um corpo estranho, pode estimular se você tiver alguma predisposição, mas é um procedimento seguro, não existe motivo para pânico. O que acontece é que muitas mulheres podem ter desenvolvido alguma doença durante o período que estava com o silicone, mas isso não quer dizer que ele seja o causador. É preciso cuidado com os relatos que se tem em redes sociais, o emocional da pessoa pode desencadear muitas doenças e com isso se somatizar sintomas", destaca. 
 
Exemplos.  Ainda em estudo, nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) propôs que os fabricantes de silicone incluíssem advertências nos implantes mamários para explicar aos pacientes sobre os riscos da cirurgia. Diversos pesquisadores da instituição já pesquisam há pelo menos uma década se existe relação entre certos tipos de câncer e próteses de silicone, mas a entidade, que é o órgão responsável pela proteção e promoção da saúde pública no país, já reconheceu que existe sim uma doença relacionada aos implantes. 
 
Mas enquanto não há comprovação, há dois meses a biomédica Carolina Almeida, 27, também decidiu retirar as próteses de silicone depois de quatro anos com os implantes. A decisão não foi fácil, ter as próteses sempre foi um sonho para a influenciadora digital, que aos 23 anos ganhou de presente do pai a cirurgia que por toda a vida achou que seria um boost para a autoestima. 
 
Segundo Carolina, os problemas começaram nove meses após o implante. Ela começou a sentir dores musculares e nas articulações, além de queimação e ardência em todo o corpo. "Também tinha pele, boca e olhos secos, perda de cabelo e de memória, dor de cabeça. Eu já estava em uma tristeza profunda por não saber o que estava acontecendo. Eu era completamente saudável antes, mas cheguei num estágio que eu não conseguia trabalhar, porque não dava nem para ficar sentada, era muita dor, eu só ficava deitada", relata. 
 
As dores permaneceram por mais de dois anos. Nesse período, a biomédica foi diagnosticada com depressão, fibromialgia e passou por muitos médicos e exames que nada explicavam o surgimento das dores. Foi só depois de uma postagem no Facebook, em julho deste ano, que Carolina descobriu a chamada "doença do silicone" e se identificou de imediato com os sintomas. 
 
"O silicone foi uma realização para a minha vida, sempre quis. Eu cresci, como a maioria das mulheres, dentro de uma padrão de beleza e estético, então até hoje, mesmo sabendo que fiz a melhor decisão que poderia ter feito, me bate uma tristeza às vezes quando me olho no espelho, mas eu mudei as minhas prioridades. Eu prefiro ter saúde, viajar, fazer trilhas. Eu prefiro ser feliz. Hoje entendo que não são duas bolas, um corpo estranho dentro de mim, que vão me fazer mais realizada. Não me arrependo", afirma a influenciadora que garante a maioria dos sintomas desapareceu após o explante, que já faz dois meses. "Eu estou a cada dia melhor, as dores melhoraram muito, algumas já desapareceram e outras estão com a intensidade muito menor", conta. 
 
Para a médica Anne Groth, o papel do cirurgião é alertar. "É preciso falar que existem situações e falar quando existe algum tipo de restrição, falar dos riscos para a paciente, porque em qualquer cirurgia tem. Mas se a mulher escolhe colocar o silicone, ela também tem o direito de escolher retirar se ela acredita que está fazendo mal. A opção é dela, só não existe ciência que comprove isso. Como médica não posso te falar que vai melhorar os sintomas. A ciência está estudando é preciso tempo para se ter respostas", avalia. 
 
Apoio. A professora Larissa de Almeida, 36, é uma militante no assunto. Ela realizou o explante após sentir diversos sintomas. Hoje, ela ajuda a administrar dois grupos na internet de pessoas interessadas em conhecer o assunto: o Doença do Silicone – Apoio ao Explante, no Facebook, e, no Instagram, o @explantedesilicone. “Muitos médicos não acreditam, superestimam, sugerem trocar, por isso, estude, conheça o assunto antes”, orienta a professora.
 
Publicado em 03/09/2020 15:10

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