Você se engana? Por que é comum dizer 'está tudo bem' mesmo quando não está?

Quando te perguntam como você está, você é sincero ou sempre responde que está tudo bem, mesmo quando não está? Você costuma repetir para si mesmo que tudo está certo, mesmo quando as coisas estão de cabeça para baixo? Muita gente costuma ficar mentindo para si mesmo, mascarando sua realidade e se autoenganando. Mas por que essas pessoas agem assim?

Para Tatiana Mourão, psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minhas Gerais), a palavra mentira muitas vezes é utilizada como uma intenção consciente de enganar a um outro. Entretanto, inúmeras vezes, na verdade tentamos nos afastar da nossa realidade quando ela é muito diferente do que desejamos ou que imaginamos que as pessoas que valorizamos desejam que nossa realidade seja.

"Mentimos para nós mesmos quando não suportamos (ou aceitamos) uma realidade da nossa vida ou quando pensamos que não seremos valorizados pelos que nos cercam se souberem da nossa vida tal como ela é." Tatiana Mourão

Será que você se autoengana?

Para a psicóloga e psicanalista Beatriz Silva, de São Leopoldo (RS), o indivíduo começa a fingir ou mentir que está tudo bem, para assegurar ao ego um equilíbrio entre seus impulsos conflitantes e aliviar sua tensão, causada pelas suas próprias exigências ou meio em que vive, ou ainda por frustrações ao se comparar aos outros. Ela elenca alguns sinais perceptíveis na fala da pessoa que se autoengana:

  • Estou bem, mas estaria melhor se... (tivesse um carro novo, minha casa própria, uma poupança...);
  • Estou bem, mas sinto necessidade de fugir... (do meu trabalho, da minha casa, dos meus compromissos);
  • Está tudo bem, se não fosse... (o meu marido, meu chefe, minhas dores);
  • Sou feliz, só preciso de mais (descanso, tranquilidade...);
  • Tenho tudo o que sempre quis, no entanto...

Silva explica que na teoria da psicanálise freudiana existe o conceito de ego, uma parte da estrutura da mente que tem uma função mediadora, integradora e humanizadora, entre outras, logo seu principal objetivo é assegurar a identidade ou integridade do indivíduo. Quando essa integridade ou identidade é ameaçada, de forma consciente ou inconsciente, os mecanismos de defesa do ego possibilitam que a mente desenvolva uma forma de resolver esse conflito, que nem sempre é funcional. É assim que desenvolvemos sentimentos como ansiedade, medo e frustrações não resolvidos.

Reclamar não resolve. Fingir também não

Muita gente justifica fingir uma realidade por achar que não resolve ficar reclamando. E elas têm razão. Mourão analisa que a existência de uma privacidade adequada é uma postura na vida. "Colocar-se como vítima reclamando da vida para os outros e para a si mesmo não acarreta crescimento e possibilidade de superação das dificuldades", completa.

Mas fingir também não resolve o problema. "Fingir algo que não existe também impedirá a possibilidade de reconhecimento das dificuldades e superação delas através de uma mudança efetiva e salutar da realidade", diz Mourão.

Fugir só traz mais problemas

Segunda Silva, muitas pessoas não têm consciência do quanto está fingindo ou negando o conflito, até se deparar com um gatilho. Mas não há autoenganação que dure para sempre. "Ignorar os problemas e fingir que eles não existem apenas fará com que eles se tornem mais graves e de solução mais complexa, no final podendo até ser insolúveis", alerta Mourão.

Ela explica que a ansiedade constante de aguentar uma estrutura e uma aparência de vida insustentável pode trazer consequências tanto para a saúde física quanto mental, em parte, decorrentes do esforço para persistir numa realidade falsa e que não terá como se manter por muito tempo. Essa situação pode gerar sintomas ansiosos, rebaixamento do humor e o estresse crônico.

Dica dos especialistas: encare a realidade.

De acordo com Mourão o gasto de energia psíquica necessário para manter uma imagem que não existe consumirá um trabalho enorme que desviará o foco de reconhecimento da realidade desagradável e frustrante que necessita ser transformada, em outra que cause menor sofrimento de desgaste. Logo, perde-se o foco do problema e toda a vida psíquica ficará concentrada na manutenção de uma irrealidade e não na transformação da realidade desagradável em algo melhor.

"A verdade dói apenas no início; pensamos que ela é muito mais dolorosa do que é na maioria das vezes é", afirma Mourão. Encarar o problema de frente é mais fácil e assertivo do que a dor de fingir e o esforço que é necessário fazer para fingir que um problema não existe.

A professora explica ainda a que a sensação de alívio quando se encontra uma solução possível (mesmo que muitas vezes não seja a que desejamos) ou aceitar que um problema não tem solução, como a perda de algo ou de alguém muito amado, mas que não é possível ter de volta, nos coloca em um patamar diferente da compreensão dos nossos problemas e da nossa vida.

Texto de Diego Garcia.

Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/09/24/voce-se-engana-por-que-e-comum-dizer-esta-tudo-bem-mesmo-quando-nao-esta.htm

Publicado em 28/01/2021 19:02

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