O ser humano é confrontado diariamente com muitos desafios: crises econômicas, crises políticas, a rotina estafante nas grandes cidades, muitas horas perdidas diariamente no trânsito. Essas sempre foram queixas frequentes.
A partir de março de 2020, porém, apareceu um vírus que se transformou em uma pandemia e colocou em prova toda a sociedade moderna. Uma pandemia de rápida disseminação por um vírus até então desconhecido: COVID-19.
Em meio a essa crise de enfrentamento do vírus, os profissionais de saúde tornaram-se figuras centrais, tanto no enfrentamento direto da pandemia, quanto na retaguarda para tratamento das doenças que tiveram exacerbação com a quarentena.
Em especial no que diz respeito às varizes em membros inferiores, as condições impostas pela pandemia tiveram um impacto decisivo na piora da doença.
Com o início do distanciamento social em março de 2020 e, para muitos, a instituição do trabalho em regime de home office, houve uma mudança drástica da rotina da população mundial, diminuindo em muito a atividade física e causando prejuízos para o sistema cardiovascular.
Estima-se que cerca de 80% da população tenha algum grau de insuficiência venosa ou varizes em membros inferiores em seus diferentes graus, desde teleangiectasias (microvarizes ou vasinhos) até casos mais graves de inchaços nas pernas e úlceras varicosas.
O cerceamento da liberdade de ir e vir, tão necessário para o controle da pandemia, levou a um aumento dos sintomas de insuficiência venosa e uma maior necessidade de atuação do angiologista.
Exemplificamos o caso de uma paciente que apresentava microvarizes e teleangiectasias (vasinhos), já em acompanhamento regular no consultório há vários anos, com sessões de aplicação a laser anuais.
Apresentava dores esporádicas nas pernas ao final do dia, com melhora com elevação dos membros e com a movimentação (atividade física). Com o início da pandemia em março de 2020, foi deslocada das atividades no escritório da empresa e passou a trabalhar em regime de home office.
Relata períodos de trabalho diários de muitas horas sentada em frente ao computador, com várias reuniões com a equipe online, e em um ambiente pouco adequado para sua ergonomia. Voltou ao consultório alguns meses após, com piora das dores nas pernas e um quadro de edema (inchaço) nos membros inferiores.
A paciente esperou muito tempo para ir ao consultório, pois estava com medo de sair de casa. Fez uso de diurético por conta própria, com piora do edema e aparecimento também de cãibras. Após comparecer ao consultório, foi iniciado então um trabalho de orientação postural com a paciente, com troca da cadeira utilizada e colocação de apoio para braços e pernas.
Ela foi orientada também a fazer caminhadas curtas a cada hora sentada, além de hidratação adequada. Iniciados também exercícios de ativação das panturrilhas, como flexão dos pés e movimentos de elevar e abaixar os tornozelos ao ficar em pé. Foi suspenso o diurético e iniciado tratamento com medicamento flebotônico. Prescritas também meias elásticas e atividades físicas regulares. Retomado também o tratamento das varizes em consultório, com as aplicações de laser e glicose. Houve melhora importante já com 15 dias de tratamento.
O caso em questão é importante para ilustrar as repercussões atuais da pandemia sobre as doenças venosas, e também para demonstrar a importância para os pacientes de manterem os controles das doenças cardiovasculares em dia. Não deixar de comparecer às consultas médicas de rotina, pois isso também tem um impacto negativo sobre a qualidade de vida.
Se você se identificou com o caso em questão, procure seu angiologista de confiança. Manter a saúde vascular em tempos de pandemia também é uma medida importante para garantir uma vida saudável e com qualidade.
Texto por: Leonardo Ghizoni Bez - Angiologista, Cirurgião Vascular dos Hospitais Felício Rocho e Ipsemg , Ex-Presidente e atual membro Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular / MG
Publicado em 08/04/2021 14:4430/11
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