Geralmente associada a festas, noitadas e a mistura com bebidas alcoólicas, os energéticos são bebidas à base de cafeína e outras substâncias estimulantes, como a taurina e a glucoronolactona, que potencializam a resposta do cérebro aos estímulos, deixando o corpo mais ativo ou acelerado. Um teste, feito no Laboratório de Análises de Alimentos da FEA-Unicamp, analisou sete marcas diferentes de energéticos para saber se elas continham as quantidades adequadas de cafeína e taurina. O método da análise, chamado cromatografia eletrocinética micelar, usa um reagente para separar cada um dos compostos do produto.
O teste mostrou diferença entre os valores indicados nos rótulos e os reais. Segundo os pesquisadores do laboratório, as amostras apresentaram uma pequena quantidade de cafeína superior à declarada, mas justificada pela necessidade de manter o teor da substância até o final de validade do produto. É admissível uma variação de 20% nos valores declarados no rótulo. Porém, os produtos devem obedecer às quantidades máximas de cafeína e taurina estabelecidas na lei - respectivamente, 35 mg/100 ml e 400 mg/100 ml. Duas marcas, Fusion e Monavie, extrapolaram os limites.
As dúvidas que rondam essas bebidas não param de surgir. Pensando nisso, o Minha Vida conversou com um time de especialistas no assunto. A seguir, o fisiologista especializado em medicina esportiva, Jorge Zogaib, o personal trainer Edson Ramalho, as nutricionistas Roberta Stella e Patrícia Ramos e o clínico geral Flavio Tocci falam sobre os pontos positivos e negativos dos energéticos.
A nutricionista Roberta Stella explica que os energéticos podem conter até 148 calorias, valor semelhante a quantidade de um copo de refrigerante ou suco de laranja. "Por isso, quem deseja emagrecer deve consumir com moderação", diz.
Por ser uma bebida diurética, os energéticos fazem o organismo perder os líquidos que ele tanto precisa durante a atividade física. "Eles não foram desenvolvidos visando à hidratação e, por isso, não devem ser consumidos com esta finalidade", explica Roberta Stella. De acordo com o personal trainer, Edson Ramalho, o rendimento físico de qualquer pessoa aumenta depois da ingestão deste tipo de bebida, já os energéticos aumentam a frequência cardíaca e a temperatura do corpo. "No entanto, a ação dos energéticos tem efeito rebote para o organismo, deixando você ainda mais cansado e sentindo os efeitos do estresse muscular", explica.
Quando são consumidos em combinação com álcool, os energéticos provocam aumento da adrenalina, palpitações, suor e dependendo da quantidade ingerida, podem levar à desidratação já que os dois são diuréticos. Segundo o fisiologista Paulo Zogaib, a combinação do energético com o álcool é perigosa, porque leva a excessos de ingestão de ambas as substâncias.
"O álcool é um depressor do sistema nervoso central (ele retarda as respostas do cérebro aos estímulos), enquanto o energético é um estimulante, por isso, quando ingerimos álcool é preciso aumentar a dose de energéticos para se alcançar o efeito de euforia. A pessoa que bebe a mistura fica mais acelerada pela ação do estimulante e mais corajosa pela ação do álcool, o que pode ser perigoso", afirma o especialista.
O risco de tomar um estimulante em jejum está ligado a absorção de suas substâncias pelo organismo. "Um energético ingerido em jejum pode comprometer as funções do estômago e de todo o aparelho digestivo, além de potencializar os efeitos da bebida na medida em que sua absorção se torna mais rápida e os efeitos mais intensos", explica o fisiologista Paulo.
Além de os energéticos te deixarem acelerado, levando à insônia, eles também podem fazer com que você durma demais. "Você fica agitado por umas horas e não dorme, depois, dorme demais para compensar o tempo perdido", explica o fisiologista Paulo.
O resultado da combinação de energético com medicamentos pode ser bastante prejudicial ao organismo. Se a pessoa já tem algum problema de saúde, tende a piorar. O uso isolado de estimulantes já altera as funções do organismo. "Se o remédio também for estimulante, por exemplo, poderá haver uma inibição de seu efeito", diz Zogaib.
Assim como os demais estimulantes químicos (cafeína ou drogas, como a cocaína, dentre outros), eles deixam de fazer efeito se tiverem o uso for contínuo e a pessoa passa a ingerir quantidades cada vez maiores para obter o mesmo resultado. "Isso varia muito de pessoa a pessoa, mas em geral, o corpo acostuma e pede cada vez mais. Vira um círculo vicioso grave", explica Paulo.
Segundo o clínico geral Flávio Tocci, os energéticos apresentam uma dose alta de cafeína e de substâncias com nível toxicológico questionável, e o organismo de uma criança não está preparado para receber tamanhas doses. "Se um adulto já fica acelerado, imagine uma criança. Ela pode apresentar tremedeira, ficar nervosa e muito acelerada. Não é apropriado", explica.
Quando consumidas em excesso, as substâncias estimulantes causam ansiedade, agitação, cefaleia e, em alguns casos, apresentam grau de toxidade questionável, como a taurina e a glucoronolactona. "São substâncias que alteram o funcionamento de nosso organismo de forma brusca, por isso devem ser ingeridas com moderação e certa cautela", diz Zogaib.
Texto por: Natalia do Vale
Disponível em: https://www.minhavida.com.br/saude/materias/10974-voce-pensa-que-energetico-e-agua-mitos-e-verdades-da-bebida
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